Neste post iremos falar sobre alguns mitos que podem surgir após o visionamento do
filme “O Discurso do Rei” e confirmar algumas verdades sobre a gaguez.
1)
“A gaguez começa
sempre na infância.”
Parcialmente verdadeiro - Todas as crianças, quando começam a falar, passam por uma fase onde
gaguejam, como se estivessem “experimentando” as palavras. Essa fase designa-se
por disfluência fisiológica e surge gradualmente, associada a um período de rápido desenvolvimento da
Fala e da Linguagem. Ocasionalmente, pode se desenvolver para um quadro de gaguez crónica,
manifestando-se com maior frequência entre os 2 e os 5 anos de idade.
No caso da gaguez não se manifestar na
infância e sim na adolescência ou já em vida adulta, o que poderá ter
acontecido é que a gaguez já estava presente, mas ainda não se tinha
manifestado, pois não tinha existido nenhum fator desencadeante.
2)
“A gaguez tem relação
com problemas na língua ou na garganta.”
Falso - A gaguez é entendida como uma dificuldade do cérebro na
temporalização e automatização dos movimentos da fala. Logo, não possui nenhuma
relação com problemas anatómicos da língua ou garganta.
Algumas linhas terapêuticas utilizam
exercícios para tonificar e mobilizar estes órgãos, como forma de auxiliar a
promoção da fluência, bem como exercícios para voz, porém esta relação é
indireta.
3)
“Forçar um indivíduo
canhoto a ser destro pode causar a gaguez.”
Falso – Apesar da antiga hipótese de que a gaguez estaria relacionada à lateralidade cerebral atípica, ainda não existem dados conclusivos que indiquem associação com a preferência do uso das mãos.
4)
“A pessoa com
disfluência não gagueja quando canta.”
Parcialmente verdadeiro - As pessoas com
gaguez não costumam gaguejar ao cantar porque o canto é processado, no cérebro,
de maneira diferente que a fala espontânea, auto-expressiva. No canto, há
pistas externas como o ritmo, a melodia e uma letra já existente, que auxiliam
o cérebro e favorecem a fluência. Contudo, isto não é uma regra e para algumas
pessoas o canto não elimina/reduz a gaguez.
5)
“Quando um “gago”
não ouve a própria voz, ele deixa de gaguejar.”
Parcialmente
verdadeiro – Quando um “gago” deixa de ouvir a própria voz, seja com algum
impedimento silencioso ou musical, a fluência do seu discurso tende a melhorar.
Isso ocorre porque não existe a confrontação de elaborar ideias de forma rápida
para transmiti-las a outra pessoa com quem se fala, como acontece durante uma
conversa ou apresentação. Essa modificação do feedback auditivo é uma técnica
utilizada em algumas linhas terapêuticas, mas não é uma solução definitiva.
6)
“Atualmente, na
Terapia da Fala, ainda são utilizados os métodos de inserir berlindes na boca
ou de rolar no chão, como apresentado no filme.”
Falso - Atualmente, esses dois exercícios
não são aplicados no tratamento terapêutico. No entanto, algumas estratégias
observadas no filme "O Discurso do Rei" ainda são utilizadas pelos
terapeutas da fala para facilitar a fluência, como a suavização das palavras, a
diminuição da velocidade de fala e a modificação da gaguez.
7)
“A Gaguez tem
cura.”
Falso - Até ao momento,
não existe cura para a gaguez, no sentido de eliminar o caráter genético e/ou
orgânico envolvido, No entanto, há tratamentos com ótimos resultados e reduções
significativas das ruturas da fala.
No filme "O
Discurso do Rei", George VI obteve sucesso no seu discurso, porém não
ficou curado da gaguez, o que aconteceu foi que ele passou a utilizar
estratégias que facilitam a fluência.
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