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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Jornada sobre Gaguez: “Quebrar Silêncios, Partilhar Responsabilidades”

  A Associação Portuguesa de Gagos realizou no dia 20 de Outubro, em Coimbra, uma jornada sobre gaguez, com os objetivos de consciencializar e refletir sobre a gaguez, bem como sensibilizar a sociedade e criar um espaço de interação e apoio.

Apresentarei aqui um resumo e os assuntos que achei mais importantes da jornada.

Na jornada foram apresentados vários tópicos, o primeiro deles, apresentado pelo Terapeuta da Fala Dr. Joseph Agius, falava sobre repensar a intervenção em gaguez (Re-Thinking Stuttering Intervention: The Smart Intervention Strategy) com o uso de uma estratégia de intervenção “The Smart Intervention Strategy”, que para o português pode-se traduzir como “Estratégia de Intervenção Inteligente”.
  Esta estratégia tem como objetivo, mudar as perceções que uma pessoa que gagueja tem sobre a gaguez. E como fazer isso? Usando a criatividade e o humor, mudando a perspetiva da gaguez, em vez de esta ser um problema passa a ser um dom, uma dádiva.
 
  As pessoas que gaguejam são como se fossem um carro avariado (usando o exemplo do Dr. Joseph Agius), para que o problema do carro não ocorra novamente nós vamos adotando técnicas. Ou seja, antes de conduzirmos o carro já vamos pensando se ele dará problemas ou não e para isso, ao ligarmos, aceleramos mais e, ao mesmo tempo, ficamos ansiosos e nervosos com a possibilidade de o carro parar no meio da rua. Da mesma forma, isto também ocorre com as pessoas que gaguejam, elas vão adotando técnicas para diminuir a gaguez e, ao mesmo tempo, têm sentimentos maus sobre ela ficando ainda mais ansiosos e nervosos numa situação em que terão de se expressar através da fala.
  
  Sabemos que a gaguez não é de origem psicológica, mas os pensamentos negativos sobre a gaguez que uma pessoa que gagueja tem, é um fator que não os ajuda no momento de falar.
 
  Mas voltando ao assunto da estratégia de intervenção. Ao usarmos a criatividade e o humor numa terapia o utente fica mais à vontade e mais motivado para realizar as técnicas propostas pelo terapeuta. Além do que, com o pensamento positivo sobre a gaguez diminui a tensão ao falar, pois o indivíduo aceita melhor a gaguez como parte de si.
 
Para terminar de explicar esta palestra usarei outro exemplo do Dr. Joseph Agius: "Nós podemos olhar para a mesma coisa e termos visões diferentes sobre ela". É o que acontece com a seguinte figura. Podemos ver dois mexicanos ou duas pessoas idosas, depende do ponto de vista de cada pessoa.
 
 
 
  O outro tópico apresentado foi uma mesa redonda sobre “Gaguez no Feminino”. Nessa parte da jornada houve depoimentos de duas mulheres gagas. Como sabemos a gaguez afeta mais o sexo masculino, por isso foi feita essa mesa redonda. Para refletir sobre as dificuldades de uma mulher que gagueja.
 
  Num dos depoimentos falaram sobre algumas estratégias que ela adotou para a sua vida, que a ajudaram a gaguejar menos: fazer exercícios regularmente (caminhar e ir ao ginásio), pois ajuda a regular a respiração; dormir bem (em quantidade e qualidade) diminui o cansaço físico e mental; ser uma pessoa organizada (organizar as tarefas diárias). E principalmente, usarei a expressão que a pessoa que estava fazendo o depoimento disse, não ter o “pensamento de gago” – “não vou conseguir”, “não posso fazer isso porque sou gago(a)”, etc. E falar e praticar sempre que possível.
 
  Quero avisar desde já que isto não é uma regra, cada pessoa usa as estratégias que lhe parecem mais convenientes e se uma estratégia funcionou com uma pessoa, não quer dizer que também tenha o mesmo resultado noutra. Procure sempre ajuda de um Terapeuta da Fala.
 
   Segundo uma das oradoras, a Terapeuta da Fala Helena Germano, também é importante que uma pessoa que gagueja participe num grupo sobre gaguez que contenha apenas integrantes gagos, sem terapeutas ou qualquer outro profissional da saúde. Porque os grupos trazem um sentimento de comunidade, de alívio, segurança e conforto. Evitando a tendência do isolamento, criando uma identidade para além da gaguez. No grupo, o indivíduo também terá maior entendimento das suas reações e encontrará respeito mútuo, além do que, poderá utilizar o que aprendeu no exterior. Os grupos de ajuda fornecem um impacto positivo na auto-imagem da pessoa e melhora a aceitação da gaguez.
 
  E para terminar o meu depoimento sobre a“Jornada sobre gaguez” quero deixar um recado para todos: Falem abertamente sobre a gaguez, partilhem ideias, desconstruam estereótipos e procurem entender a gaguez. O problema da gaguez não é só de quem é gago, mas da sociedade como um todo.
    

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